O “causo” de hoje quem me contou foi Gilton do Cartório. Estou fazendo questão de fazer esta afirmativa porque eu sou responsável pelas minhas verdades. As do menino do cartório, naturalmente, são dele. Vamos ao fato:
Anísio Nogueira da Silva era o seu nome de batismo. Trabalhou por muitos e muitos anos no Armazém de secos e molhados de Antiacho Pereira. Nogueira era pau pra toda obra. Homem de palavra e de pouca conversa. Não era de fazer corpo mole pra nada deste mundo.
Pois bem. O fato é que ocorreu um crime bárbaro lá pras bandas do França, pequeno distrito de Piritiba. Num desses bate-coxas de final de semana, após uma discussão aparentemente inconsequente, o outro desferiu vinte e tantas peixeiradas no bucho do que faleceu e, limpando a arma do crime na perna da calça de brim coringa, escafedeu-se.
Nogueira estava lá e presenciou a cena. Contou todos os detalhes para o soldado Dário e depois para o delegado Miranda Sampaio, no inquérito apurado.
Alguns meses após o crime, a testemunha ocular recebeu uma intimação do Juiz de Mundo Novo. Embarcou no trem e foi testemunhar no Fórum. Lá chegando, no horário estipulado, o Oficial de Justiça anuncia o início do Júri Popular e convida Nogueira para depor.
- Sr. Anísio Nogueira da Silva, o senhor jura dizer a verdade e somente a verdade?
- Carece jurar não, Seu Juiz. Não sou homem de contar lorota.
- Então diga sim, seu Anísio.
- Sim.
- O senhor viu o esquife?
Nogueira ficou mudo olhando para o Juiz, que repetiu a pergunta por mais três vezes e nada de obter resposta.
Vai daí que o Promotor cochichou alguma coisa no ouvido do Meritíssimo.
- Sr. Anísio, vou lhe perguntar pela última vez: o senhor viu o defunto?
- O senhor fica “ponhando” apelido no defunto. Por que não falou logo? Fui eu quem vestiu o falecido, então como não haveria de ver?
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