Tempos bicudos o da nossa infância em Piritiba, onde refrigerante era artigo de luxo, de consumo apenas em finais de semana de ano bissexto.
Hoje é domingo. O ano não é bissexto e os tempos mudaram. Vendo minha filha tomando uma “Sukita”, eu me lembrei de uma história ocorrida num ano bissexto da infância. Vamos ao “causo”:
Rubão, fanático torcedor do Nacional Futebol Club, tinha uma mania: todos os dias após o almoço, ele cruzava a Praça Getúlio, chegava ao Bar de Josué Borges e, antes mesmo de sentar-se, Nadinho, o eficiente garçom, abria a velha Gelomatic movida a querosene, e trazia para o cliente preferencial uma” Água Mineral”, que era sorvida a goles pequenos.
Pois bem. Naquele ano bissexto, o meu padrinho Reni, que morava em Jacobina, em visita a Piritiba, me deu uns trocados e eu saí em disparada à procura do Bar de Josué. Queria fazer o que Rubão fazia todos os dias. Sentei-me no mesmo lugar e, orgulhoso, solicitei a presença de Nadinho, que, de pronto, chegou para me atender.
- Por favor, me veja uma “Água Mineral”!
Com um copo numa mão e a garrafa na outra, Nadinho se aproximou da mesa onde eu estava, abriu a garrafa, encheu o copo com aquele líquido branco e inodoro e retirou-se a seguir. Compenetrado, lancei um olhar para a praça, à procura de alguém que pudesse me ver experimentar aquela “iguaria”. A praça, como o bar, estava deserta. Na falta de plateia, levei o copo à boca para conhecer o sabor do líquido preferido por Rubão. Qual não foi a minha surpresa: aquilo tinha gosto de água, cheiro de água. Senti que fui logrado. Bem que podia ter gasto o meu dinheiro tomando uma “Sukita.
E assim caminha a humanidade. Tenham todos um bom domingo.
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