Mulher rendeira | Por: Adaelson Alves SIlva


Dr. Adaelson Alves Silva, piritibano, radicado no Paraná, médico Nefrologista. E autor do texto "Mulher rendeira".

Veja mais um episódio da Série "Um Dedo De Prosa".

Hoje cedo, deparei-me com a notícia do falecimento de Bode Veio, personagem folclórica de nossa Piritiba. Na verdade, ele morava no distrito de Areia Branca. Foi mais uma vítima da “marvada pinga”.
                        Pois bem, toda cidade, grande ou pequena, tem os seus personagens manjados. A nossa Piritiba não foge dessa regra. Muitos desses já passaram dessa para outra, deixando apenas as recordações. Lembram de Jegão, Zabelê, Cacai, Pedro Culipa, Tininica, Cabecinha de Aio? Com certeza você também vai se lembrar de outros. 
                        Também havia os bêbados, cornos, doidos, tarados e mentirosos. Hoje eu quero falar de um mentiroso que também partiu deixando saudades e suas mentiras. 
Um dia, aliás, uma noite, ele estava no Bar Central, contando seus casos para uma multidão reunida à sua volta. 
                       - Eu estava voltando de uma caçada que fazia no meio de uma mata, perto do Cruzeiro. Tinha matado um veado enorme, que deixei lá porque, de tão grande, eu não consegui trazer sozinho. Sem falar na onça pintada que surgiu na minha frente e que, quase me mata de susto. Sorte que eu estava com o meu punhal na cintura e ela percebeu que não ia ser fácil me pegar. Saiu em disparada e, com medo, se embrenhou no meio da mata. 
                        Já estava escurecendo. Vai daí que eu ouvi alguém cantando uma música. Pensei com meus botões: quem estaria cantando no meio do mato uma hora desta? Apurei o ouvido e ouvi o canto: Olê, mulher rendeira, olê, mulher rendá, tu me ensina a fazer renda... Andei vários passos em direção da cantoria, que se tornava cada vez mais alta. Qual não foi a minha surpresa, ao perceber que não tinha nem uma pessoa cantando. 
                       Você deve estar querendo saber então, o que era, já que não era nenhuma pessoa. 
                     Pois bem, para a minha surpresa, era um pedaço de um disco quebrado no chão e o vento fazia um galho balançar, passando um espinho no disco como uma agulha de vitrola.
                         Uma boa semana para todos.

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