A Jinjibirra | Por: Adaelson Alves Silva




Dr. Adaelson Alves Silva, piritibano, radicado no Paraná, médico Nefrologista. E autor do texto "A Jinjibirra".

Veja mais um episódio da Série "Um Dedo De Prosa".

Bonitão. Era assim que ele era conhecido. Tinha uns sete anos de idade. Pretinho e com duas pernas. Se lhe faltasse uma tinha tudo para ser o Saci-Pererê. Ligeiramente feio. Cabelos pretos e encaracolados cobriam sua  cabeça avantajada.

- O seu nome de registro ?
- Confesso que não me lembro. Sei, contudo, que este detalhe não vai fazer muita diferença nesta história, que o tempo não apagou da minha memória.
Tempos bicudos aqueles da infância. Muita seca e falta de energia elétrica. Eterno apagão dos tempos modernos. Geladeira, televisão, tudo muito distante da realidade dos meus oito anos, onde Coca Cola era bebida de rico.
O Ki-Suco ainda não tinha sido inventado. A sede sim. E que sede a gente tinha naquelas tardes calorentas. A água quente e salobra da cidade era difícil descer goela abaixo. Só quando resfriada nos potes e moringas de barro feitos por D. Terta ou Júlia louceira.
Vai daí que, comprando um xarope de groselha na farmácia de Zezinho, adicionando água e açúcar estava inventada a “Jinjibirra”. Sim, foi esse o nome dado àquele refresco (não muito fresco, porque água gelada não existia naquele sertão de meu Deus).
Sábado era o dia da feira. E nesse dia eu montava uma mesinha e comercializava o produto, que, diga-se de passagem, foi um sucesso de vendas. Maior quando me veio a idéia de engarrafar o produto, nos vasilhames de Coca Cola  Aí a Jinjibirra era bebida no gargalo. Era o refrigerante caboclo. O negócio ia de vento em popa. Com o dinheiro adquirido comprei um saco de 60 quilos de açúcar, no depósito de Antiacho (pagamento à vista), 2 litros de xarope de groselha e 1 de abacaxi, na farmácia de Zezinho.

- Você se lembra de Bonitão?  É agora que ele entra na prosa e no próspero comércio, vendendo o produto na feira. E era um bom vendedor. Foi ele que me deu a idéia de adicionar um pouco de bicarbonato de sódio à “Jinjibirra”.
- Por que o bicarbonato ?
              Eu também fiz a mesma pergunta pra Bonitão.
- Tampando a garrafinha e botando “bicabornato” vai fazer “gaiz” ingual a Coca Cola”, foi o que ele me respondeu .
Dito e feito. A Jinjibirra ficou igual a refrigerante de rico e as vendas aumentaram, como aumentava a barriga de Bonitão no final do expediente. O certo é que, com o novo sabor, ele tomava mais do que vendia. E aquela imensa barriga, brilhando de tão cheia e desproporcional ao pequeno corpo, denunciava o seu gesto e me levou à banca rota.
  - Eu quebrei, e a Kibon lançou o Ki-Suco, que, diga-se de passagem, não agradou ao paladar exigente de Bonitão.








Postar um comentário

0 Comentários