Encontradas em Piritiba-BA as rochas mais antigas da América do Sul

Rocha da região baiana de Piritiba, na Chapada Diamantina, datada em 3,65 bilhões de anos | Foto: Elson Paiva de Oliveira


Um grupo de pesquisadores brasileiros encontrou no município de Piritiba, na região da Chapada Diamantina-BA, as rochas mais antigas da América do Sul. 

Com 3,65 bilhões de anos de idade, elas datam do Eoarqueano, a primeira era da escala geológica a abrigar uma crosta sólida no ambiente terrestre, que abrange o período entre 4 bilhões e 3,6 bilhões de anos atrás. Quando essas rochas foram formadas, a Terra tinha pouco menos de 1 bilhão de anos e as primeiras formas de vida estavam surgindo.

O geólogo Elson Paiva de Oliveira, do instituto de geociências da universidade estadual de Campinas (IG-Unicamp) ressaltou:

“Encontrar amostras geológicas tão antigas em uma região tropical como a nossa é quase um milagre."

O geólogo Igor Moreira, explicou:

“Resolvemos fazer uma busca de norte a sul na região e encontramos rochas ainda mais antigas e uma série de outras que contam a história de como se formou nosso continente."

Datação de zircão

Não há marcadores visuais ou morfológicos que diferenciam rochas muito antigas de outras com formação mais recente. Para apontar a idade das novas amostras de Piritiba, foi preciso fazer a datação de cristais do mineral zircão presentes na região. A partir da taxa de decaimento radioativo de formas leves e pesadas do átomo de urânio encontrado no zircão, os pesquisadores determinam a idade de uma amostra geológica. No Laboratório de Geocronologia (Lagis) do IG-Unicamp, foi usada a técnica de ablação a laser, que consiste na perfuração de grãos de zircão por um feixe desse tipo de luz.

“Dessa forma, estabelecemos a idade de 3,65 bilhões de anos para as amostras”, conta Oliveira.

O estudo de rochas tão ou mais antigas do que as de Piritiba é importante para entender com mais precisão o que ocorreu nos primórdios da Terra e, a partir dessa compreensão, tentar projetar o futuro do planeta. As amostras de 4,4 bilhões de anos encontradas na Austrália, por exemplo, dão pistas sobre a presença de água na superfície pouco mais de 100 milhões de anos depois da constituição do planeta. Nem tudo era fogo na infância da Terra, que se formou há 4,56 bilhões de anos.

Afloramentos de gnaisse fornecem pistas da existência de amostras geológicas antigas - Por. Elson Paiva de Oliveira


Para Oliveira, as amostras geológicas mais antigas da região da Chapada Diamantina, além de sua relevância científica, também devem ser vistas como um patrimônio natural e cultural da região.

“Não foi um processo simples convencer a prefeitura de Piritiba da importância das rochas”, conta o geólogo da Unicamp. “Em setembro, o município completa 70 anos de emancipação política e a existência dessa raridade geológica na região vai ser destacada. Áreas de interesse geológico atraem turismo e têm potencial de melhorar a educação local.”


Fonte: Revista Pesquisa Faesp.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Projeto

As rochas mais antigas do Cráton São Francisco: Características geológicas e significado tectônico (nº 18/25465-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisador responsável Elson Paiva de Oliveira (Unicamp); Investimento R$ 175.109,95

Artigos científicos

MOREIRA, I.C. et al. Evolution of the 3.65–2.58 Ga Mairi Gneiss Complex, Brazil: Implications for growth of the continental crust in the São Francisco Craton. Geoscience Frontiers. On-line 3 fev. 2022.

OLIVEIRA, E.P et al. Birthplace of the São Francisco Craton, Brazil: Evidence from 3.60 to 3.64 Ga Gneisses of the Mairi Gneiss Complex. Terra Nova. On-line 28 fev. 2020.

 

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